domingo, março 15, 2009

Muita "filosofágem" pra um domingo de ressaca



Eita domingão de ressaca brava! Acabaram-se os cigarrinhos perfumados, e os fedidos também. Eu sempre tenho esses surtos com o cigarro, acaba um maço e eu, convicto, decido-me a nunca mais pisar naquela fétida padaria para comprar câncer embalado. Acho que consigo manter minha posição por mais algumas horas. Se bem que acordei com dor de garganta, deve ter sido a cerveja gelada ou o sereno, ou os dois, o que é mais provável, e certamente fumar não vai ser tão agradável. Mas inventaram o antiinflamatório hehe.


Meu último post foi uma verdadeira viagem de ácido: a composição da naftalina. Isso me incentivou a pensar sobre outros assuntos de relevante importância em qualquer conversa filosófica de bar. Por exemplo, falando em bar, estava eu, na última Sexta, tomando algumas cervejas com um amigo que não via há tempos, enfim, conversa bacana, assuntos em dia, e álcool suficiente nas veias para tornar tudo mais agradável, aí resolvi, como sempre faço, observar os transeuntes a minha volta, analisá-los, e concluir estas bobagens todas que escrevo aqui.

Na mesa ao lado havia um senhor de uns sessenta e poucos anos, completamente embriagado, a ponto de exalar o cheiro do álcool a metros de distância. Ele estava com uma criança de seus 4 ou 5 anos, eu acho, nunca sei a idade de criança pelo tamanho, mas devia ser seu neto, a questão é que a criança deu um salto mortal de cima de uma cadeira e meteu a cabeça no chão, enquanto o velho ria como louco, exibindo a boca vazia, e a criança com uma decepção gigantesca nos olhos lacrimejados, creio, pela falta de carinho e de cuidado. Do outro lado, na calçada, de frente a entrada, um rapaz que conheci na infância, e que simplesmente virou "nóia", estava ali por qualquer trocado para o crack ou uma dose de cachaça. Vi uma certa ligação entre a criança malabarista e ele: talvez ele tenha sido o malabarista um dia. Dentro do bar, ao redor de uma pequena mesa de bilhar, o trabalhador honesto, com as roupas sujas e puídas, paga as fichas e a pinga para fazer do bêbado o jogador mais importante de todo aquele lugar. O trabalhador paga pela companhia e pela distração antes de chegar em casa para sua vida medíocre, sem falar que no bar o bêbado lhe dá a devida importância (em troca de algumas doses), coisa que sua esposa não faz, ou ele não faz por merecer, sei lá... Junto a ele aglomeram-se mais meia dúzia de trabalhadores honestos de roupas puídas, e alguns advogados de cabelos bem cortados, ternos bonitos e alguns trambiques nos celulares. O advogado se sente gente no boteco porque é o único lugar onde é chamado de "Dotô" sem hipocrisia. Todos eles exibem carros e celulares novos, mas escondem em casa famílias infelizes. Ainda haviam ali o dono da bodega, um senhor de uns 70 anos, rosado e rechonchudo, bastante simpático, e o cachorro sarnento com olhos de pidão, que vezes ganha carinho, vezes um chute de algum bêbado que poderia ser enterrado vivo para ser útil , ao menos, como adubo. E tudo isso me fez chegar a uma brilhante conclusão: eu sou feliz sendo quem sou, porque aquele é o retrato verdadeiro da sociedade em que vivo, e eu não quero nunca, nem de longe, fazer parte disso, porque ainda me dou a chance de ser feliz, e não vou me acomodar em torno de uma mesa de boteco para ser o cara bacana que paga a conta do pinguço.

Tá, aí podemos dizer que é assim porque é um botequim de quinta, mal frequentado, e que não podemos nivelar por baixo. Ok! Mas o que vejo é que muda apenas a cor e o cheiro, mas a merda toda é sempre a mesma. A realidade é que vivemos em uma sociedade de hipócritas e medíocres.


No meio em que vivo, por exemplo - trabalho com produção de festas e shows de rock, sou DJ e escritor, um mundinho onde você precisa ter o blog mais acessado, a foto no Orkut mais bonita, ser amigo do amigo do amigo do cara famoso, e bla bla bla... tudo que não agrega valor a ninguém - O que assisto nesse meio, a tal "Cena Independente", é a mesma porra que assisto no boteco do Zé. Só mudam os nomes dos bois:

No boteco é o bebum que é o parasita, na "cena" é a groupie; diferente do bebum que tem a oferecer apenas sua desgraça para deleite do advogado, a groupie oferece sexo. Igual puta, só que a cobrança é mais discreta. O maldito advogado vai existir em todo lugar, desse não dá pra se livrar, na "cena" ele pode ser substituído pelo "produtor", são farinha do mesmo saco. O trabalhador honesto é um coitado em qualquer lugar, e ainda leva chifre da esposa , que se depender dele pra ver rola morre com a boceta cheia de teias de aranha. Ele, por sinal, come as putas por aí, e, claro, quando a casa cai, o advogado cuida do divórcio... Sei que pode mudar de meios, ir entre pobres e ricos, ir até a puta que o pariu que a merda será sempre a mesma. Meu lado Nietzsche diz que é uma questão humana, meu lado Marx diz que sociológica, e meu lado Fidel, bem mais simples e direto, diz que é um assunto para o "paredão".

Sei lá, é muita "filosofágem" pra um domingo de ressaca.

Fui

Abraços a todos.

Na LUTA!
Adriano Pacianotto

1 comentários:

Unknown disse...

Muita filosofágem pra um domingo de ressaca, mas uma filosofágem basica e necessária para saber quem somos e onde estamos.

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